A sustentável leveza do ser
Marcelo Bueno pode ser considerado um fundamentalista ecológico, mas
suas atitudes um dia serão bem comuns, aprove você ou não. Ele
reduziu sua dependência no abastecimento de água, luz e comida usando
os princípios da permacultura, um estilo de vida com menos consumo e
mais auto-suficiência
Por Carlos Messias
Revista MTV - 06/2007
A gente vive numa época de excessos, mas o arquiteto Marcelo Bueno,
43 anos, faz de seu exagero (pra quem não é da turma dele, pelo
menos) uma filosofia de vida. Contrariando o ditado "Tudo o que é
demais não é bom", ele abusa um pouco da compreensão de nós, simples
mortais, que nem lixo reciclamos.
[img01]Quer um exemplo? Ele tem até um banheiro seco, onde o dejeto
humano é misturado com serragem e folhas e vira adubo para suas
hortaliças. "Não são dejetos humanos, são recursos humanos. Aprendi
com a permacultura que podemos transformar nossos problemas em
soluções se trabalharmos com eles e não contra eles."
Marcelo esbarrou com a permacultura - um plano de estratégias e ações
que visa ao constante reaproveitamento dos recursos naturais,
possibilitando uma autonomia harmoniosa do homem com o seu planeta -
quando foi buscar formas cada vez mais sustentáveis de viver e
exercer sua profissão.
Logo no começo da carreira, Marcelo já se destacava dos demais
profissionais da sua área ao utilizar materiais reciclados em suas
obras, como troncos de árvores na sustentação das estruturas. Mas
para ele isso não era suficiente. Resolveu dar um rolê pela
Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos visitando ecovilas e outros
grupos que cultivavam uma cultura de sustentabilidade.
Essa experiência mudou sua perspectiva e quando ele voltou, nove anos
atrás, percebeu que podia começar a partir da sua própria casa. "A
permacultura visa à criação de células sustentáveis onde quer que
você more. A idéia é não depender dos sistemas públicos de
saneamento, como energia, coleta de lixo e água."
O primeiro passo na subversão de Marcelo contra o sistema foi o lixo.
Ele se recusou a entregá-lo à companhia de limpeza de Ubatuba (SP),
onde mora com a esposa e o filho. O lixo orgânico foi convertido em
adubo, enquanto plásticos e metais passaram a ser vendidos ou
reaproveitados em artesanatos.
O passo seguinte foi utilizar a água da chuva, que, captada por uma
calha, passa por uma tela que retém suas impurezas e por fim
desemboca em uma caixa-d'água, que, se estiver em desnível em relação
a casa, dispensa até a bomba elétrica na distribuição para as
torneiras e os chuveiros. Ele percebeu que essa mesma água ainda
podia ser reutilizada para lavar o chão ou dar descarga. E quando nem
para isso a água serve mais pode virar adubo.
Com a questão da água e do lixo resolvida, Marcelo resolveu o
problema do aquecimento nos chuveiros usando energia solar. Mas ainda
faltava atender a uma necessidade: alimento.
Foi quando Marcelo e alguns amigos com o mesmo objetivo iniciaram um
sistema de plantação de subsistência em um sítio, localizado em volta
do Parque da Serra do Mar. Lá eles cultivam banana, mandioca, inhame,
milho, feijão, abacaxi e abacate. A tentativa funcionou tão bem que
os cinco alqueires de terra se transformaram no Ipema - Instituto de
Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica (www.ipemabrasil.org.br).
Segundo Marcelo, o Ipema é um experimento ainda mais radical do que o
que ele praticava em sua casa. "Todas as construções foram realizadas
somente com material reciclado e o mínimo de cimento. Não temos
energia elétrica por opção, utilizamos a luz solar e agora estamos
construindo uma turbina que servirá como gerador. Não é possível ser
sustentável quando se depende apenas de uma fonte", acrescenta.
O Instituto está aberto para visitação, oferece cursos e presta
consultoria a todas as pessoas, empreses e ONGs que estiverem
interessadas em aprender com essa prática de vantagens inegáveis.
Marcelo ainda enfrenta desafios como a autodisciplina, a procura
pelas tecnologias apropriadas e a disseminação desses ideais. "Não
vou ser hipócrita e dizer que eu já sou auto-suficiente. Ainda
consumo cerveja industrializada e uso óleo diesel no meu carro; mas
só porque eu ainda não tenho um carro movido a óleo vegetal nem como
produzir a minha própria cerveja. E a permacultura é justamente isso,
uma busca incessante por novas formas e métodos de ser sustentável."
terça-feira, 21 de outubro de 2008
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Consumo desordenado de eletrônicos ameaça o planeta
Empresas criam eletrônicos verdes, mas a pressão pela troca provocou
o descarte de 157 milhões de máquinas em 2007
Por Juliana Rocha do Estadão
Apenas no ano passado 157 milhões de equipamentos de informática
foram parar no lixo em todo o mundo, segundo a Agência de Proteção
Ambiental dos EUA. Qual foi a sua participação nesse megadescarte?
"Não podemos mais sustentar um ciclo de consumo de eletrônicos tão
acelerado", diz Richard Hodges, da GreenIT, consultoria americana
para assuntos verdes que tem entre seus clientes gigantes como a
Intel e a Cisco. "Essas máquinas deixam uma pegada de carbono por
peso (unidade usada para mensurar as emissões de gás carbônico feitas
desde a produção até o consumo e descarte de serviços e equipamentos)
maior do que a de carros e geladeiras, que continuam em atividade por
até 10 ou 20 anos."
Embora a indústria venha se esforçando para retirar de computadores,
impressoras e celulares substâncias tóxicas como chumbo, mercúrio e
cádmio, a obsolescência planejada desses produtos a cada 12 ou 18
meses é algo que precisa ser repensado. Será que realmente precisamos
trocar de PC ou celular a cada um ano e meio ou dois anos?
Iza Kruszewska, coordenadora da campanha internacional do Greenpeace
para a criação de eletrônicos verdes, explica que a obsolescência
planejada é determinada por "tecnologias maliciosas, como o uso de
baterias recarregáveis que não podem ser trocadas pelo
consumidor". "Uma alternativa para aumentar a vida útil dos
eletrônicos é o sistema de leasing. Os consumidores poderiam, ao
invés de comprar um novo Dell, HP ou Acer, pagar uma taxa anual por
serviços computacionais. Isso estimularia as empresas a criar
produtos duráveis, baseados em design modular, no qual partes com
defeito pudessem ser trocadas em separado e de maneira fácil", diz
Iza.
Segundo Ricardo Kobashi, organizador do projeto Lixo Eletrônico
(lixoeletronico.org), falta ao Brasil uma política para resíduos
sólidos e ainda engatinhamos na discussão sobre a destinação de
produtos que não queremos mais usar. "Enquanto há um grupo pequeno de
pessoas dispostas a mudar seu comportamento de consumo, as empresas
ficam silenciosas, esperando que a discussão sobre o meio ambiente
morra", diz.
O publicitário Sergio Lima admite só ter adquirido "alguma
consciência ambiental em relação aos eletrônicos há pouco tempo",
após conhecer ONGs de inclusão digital. "Mas essa preocupação tem
crescido. Em breve, empresas que não estiverem empenhadas em reduzir
o impacto do lixo digital estarão fora do mercado."
Para João Carlos Redondo, gerente de sustentabilidade da Itautec, uma
das mais antigas montadoras de PC nacionais – lançou sua primeira
máquina em 1982 –, "ser verde é hoje um diferencial no setor de
tecnologia da informação". "Investimos R$ 3 milhões entre 2006 e este
ano para adequar nossa linha de produção aos padrões internacionais
de performance ambiental", diz. "O aumento no preço final foi de
cerca de 2%."
fonte: www.link.estadao.com.br
o descarte de 157 milhões de máquinas em 2007
Por Juliana Rocha do Estadão
Apenas no ano passado 157 milhões de equipamentos de informática
foram parar no lixo em todo o mundo, segundo a Agência de Proteção
Ambiental dos EUA. Qual foi a sua participação nesse megadescarte?
"Não podemos mais sustentar um ciclo de consumo de eletrônicos tão
acelerado", diz Richard Hodges, da GreenIT, consultoria americana
para assuntos verdes que tem entre seus clientes gigantes como a
Intel e a Cisco. "Essas máquinas deixam uma pegada de carbono por
peso (unidade usada para mensurar as emissões de gás carbônico feitas
desde a produção até o consumo e descarte de serviços e equipamentos)
maior do que a de carros e geladeiras, que continuam em atividade por
até 10 ou 20 anos."
Embora a indústria venha se esforçando para retirar de computadores,
impressoras e celulares substâncias tóxicas como chumbo, mercúrio e
cádmio, a obsolescência planejada desses produtos a cada 12 ou 18
meses é algo que precisa ser repensado. Será que realmente precisamos
trocar de PC ou celular a cada um ano e meio ou dois anos?
Iza Kruszewska, coordenadora da campanha internacional do Greenpeace
para a criação de eletrônicos verdes, explica que a obsolescência
planejada é determinada por "tecnologias maliciosas, como o uso de
baterias recarregáveis que não podem ser trocadas pelo
consumidor". "Uma alternativa para aumentar a vida útil dos
eletrônicos é o sistema de leasing. Os consumidores poderiam, ao
invés de comprar um novo Dell, HP ou Acer, pagar uma taxa anual por
serviços computacionais. Isso estimularia as empresas a criar
produtos duráveis, baseados em design modular, no qual partes com
defeito pudessem ser trocadas em separado e de maneira fácil", diz
Iza.
Segundo Ricardo Kobashi, organizador do projeto Lixo Eletrônico
(lixoeletronico.org), falta ao Brasil uma política para resíduos
sólidos e ainda engatinhamos na discussão sobre a destinação de
produtos que não queremos mais usar. "Enquanto há um grupo pequeno de
pessoas dispostas a mudar seu comportamento de consumo, as empresas
ficam silenciosas, esperando que a discussão sobre o meio ambiente
morra", diz.
O publicitário Sergio Lima admite só ter adquirido "alguma
consciência ambiental em relação aos eletrônicos há pouco tempo",
após conhecer ONGs de inclusão digital. "Mas essa preocupação tem
crescido. Em breve, empresas que não estiverem empenhadas em reduzir
o impacto do lixo digital estarão fora do mercado."
Para João Carlos Redondo, gerente de sustentabilidade da Itautec, uma
das mais antigas montadoras de PC nacionais – lançou sua primeira
máquina em 1982 –, "ser verde é hoje um diferencial no setor de
tecnologia da informação". "Investimos R$ 3 milhões entre 2006 e este
ano para adequar nossa linha de produção aos padrões internacionais
de performance ambiental", diz. "O aumento no preço final foi de
cerca de 2%."
fonte: www.link.estadao.com.br
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