terça-feira, 21 de outubro de 2008

P E R M A C U L T U R A

A sustentável leveza do ser

Marcelo Bueno pode ser considerado um fundamentalista ecológico, mas 
suas atitudes um dia serão bem comuns, aprove você ou não. Ele 
reduziu sua dependência no abastecimento de água, luz e comida usando 
os princípios da permacultura, um estilo de vida com menos consumo e 
mais auto-suficiência
Por Carlos Messias
Revista MTV - 06/2007

A gente vive numa época de excessos, mas o arquiteto Marcelo Bueno, 
43 anos, faz de seu exagero (pra quem não é da turma dele, pelo 
menos) uma filosofia de vida. Contrariando o ditado "Tudo o que é 
demais não é bom", ele abusa um pouco da compreensão de nós, simples 
mortais, que nem lixo reciclamos.

[img01]Quer um exemplo? Ele tem até um banheiro seco, onde o dejeto 
humano é misturado com serragem e folhas e vira adubo para suas 
hortaliças. "Não são dejetos humanos, são recursos humanos. Aprendi 
com a permacultura que podemos transformar nossos problemas em 
soluções se trabalharmos com eles e não contra eles."

Marcelo esbarrou com a permacultura - um plano de estratégias e ações 
que visa ao constante reaproveitamento dos recursos naturais, 
possibilitando uma autonomia harmoniosa do homem com o seu planeta - 
quando foi buscar formas cada vez mais sustentáveis de viver e 
exercer sua profissão.

Logo no começo da carreira, Marcelo já se destacava dos demais 
profissionais da sua área ao utilizar materiais reciclados em suas 
obras, como troncos de árvores na sustentação das estruturas. Mas 
para ele isso não era suficiente. Resolveu dar um rolê pela 
Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos visitando ecovilas e outros 
grupos que cultivavam uma cultura de sustentabilidade.

Essa experiência mudou sua perspectiva e quando ele voltou, nove anos 
atrás, percebeu que podia começar a partir da sua própria casa. "A 
permacultura visa à criação de células sustentáveis onde quer que 
você more. A idéia é não depender dos sistemas públicos de 
saneamento, como energia, coleta de lixo e água."

O primeiro passo na subversão de Marcelo contra o sistema foi o lixo. 
Ele se recusou a entregá-lo à companhia de limpeza de Ubatuba (SP), 
onde mora com a esposa e o filho. O lixo orgânico foi convertido em 
adubo, enquanto plásticos e metais passaram a ser vendidos ou 
reaproveitados em artesanatos.

O passo seguinte foi utilizar a água da chuva, que, captada por uma 
calha, passa por uma tela que retém suas impurezas e por fim 
desemboca em uma caixa-d'água, que, se estiver em desnível em relação 
a casa, dispensa até a bomba elétrica na distribuição para as 
torneiras e os chuveiros. Ele percebeu que essa mesma água ainda 
podia ser reutilizada para lavar o chão ou dar descarga. E quando nem 
para isso a água serve mais pode virar adubo.

Com a questão da água e do lixo resolvida, Marcelo resolveu o 
problema do aquecimento nos chuveiros usando energia solar. Mas ainda 
faltava atender a uma necessidade: alimento.

Foi quando Marcelo e alguns amigos com o mesmo objetivo iniciaram um 
sistema de plantação de subsistência em um sítio, localizado em volta 
do Parque da Serra do Mar. Lá eles cultivam banana, mandioca, inhame, 
milho, feijão, abacaxi e abacate. A tentativa funcionou tão bem que 
os cinco alqueires de terra se transformaram no Ipema - Instituto de 
Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica (www.ipemabrasil.org.br).

Segundo Marcelo, o Ipema é um experimento ainda mais radical do que o 
que ele praticava em sua casa. "Todas as construções foram realizadas 
somente com material reciclado e o mínimo de cimento. Não temos 
energia elétrica por opção, utilizamos a luz solar e agora estamos 
construindo uma turbina que servirá como gerador. Não é possível ser 
sustentável quando se depende apenas de uma fonte", acrescenta.

O Instituto está aberto para visitação, oferece cursos e presta 
consultoria a todas as pessoas, empreses e ONGs que estiverem 
interessadas em aprender com essa prática de vantagens inegáveis.

Marcelo ainda enfrenta desafios como a autodisciplina, a procura 
pelas tecnologias apropriadas e a disseminação desses ideais. "Não 
vou ser hipócrita e dizer que eu já sou auto-suficiente. Ainda 
consumo cerveja industrializada e uso óleo diesel no meu carro; mas 
só porque eu ainda não tenho um carro movido a óleo vegetal nem como 
produzir a minha própria cerveja. E a permacultura é justamente isso, 
uma busca incessante por novas formas e métodos de ser sustentável."

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Consumo desordenado de eletrônicos ameaça o planeta

Empresas criam eletrônicos verdes, mas a pressão pela troca provocou 
o descarte de 157 milhões de máquinas em 2007
Por Juliana Rocha do Estadão

Apenas no ano passado 157 milhões de equipamentos de informática 
foram parar no lixo em todo o mundo, segundo a Agência de Proteção 
Ambiental dos EUA. Qual foi a sua participação nesse megadescarte?

"Não podemos mais sustentar um ciclo de consumo de eletrônicos tão 
acelerado", diz Richard Hodges, da GreenIT, consultoria americana 
para assuntos verdes que tem entre seus clientes gigantes como a 
Intel e a Cisco. "Essas máquinas deixam uma pegada de carbono por 
peso (unidade usada para mensurar as emissões de gás carbônico feitas 
desde a produção até o consumo e descarte de serviços e equipamentos) 
maior do que a de carros e geladeiras, que continuam em atividade por 
até 10 ou 20 anos."

Embora a indústria venha se esforçando para retirar de computadores, 
impressoras e celulares substâncias tóxicas como chumbo, mercúrio e 
cádmio, a obsolescência planejada desses produtos a cada 12 ou 18 
meses é algo que precisa ser repensado. Será que realmente precisamos 
trocar de PC ou celular a cada um ano e meio ou dois anos?

Iza Kruszewska, coordenadora da campanha internacional do Greenpeace 
para a criação de eletrônicos verdes, explica que a obsolescência 
planejada é determinada por "tecnologias maliciosas, como o uso de 
baterias recarregáveis que não podem ser trocadas pelo 
consumidor". "Uma alternativa para aumentar a vida útil dos 
eletrônicos é o sistema de leasing. Os consumidores poderiam, ao 
invés de comprar um novo Dell, HP ou Acer, pagar uma taxa anual por 
serviços computacionais. Isso estimularia as empresas a criar 
produtos duráveis, baseados em design modular, no qual partes com 
defeito pudessem ser trocadas em separado e de maneira fácil", diz 
Iza.

Segundo Ricardo Kobashi, organizador do projeto Lixo Eletrônico 
(lixoeletronico.org), falta ao Brasil uma política para resíduos 
sólidos e ainda engatinhamos na discussão sobre a destinação de 
produtos que não queremos mais usar. "Enquanto há um grupo pequeno de 
pessoas dispostas a mudar seu comportamento de consumo, as empresas 
ficam silenciosas, esperando que a discussão sobre o meio ambiente 
morra", diz.

O publicitário Sergio Lima admite só ter adquirido "alguma 
consciência ambiental em relação aos eletrônicos há pouco tempo", 
após conhecer ONGs de inclusão digital. "Mas essa preocupação tem 
crescido. Em breve, empresas que não estiverem empenhadas em reduzir 
o impacto do lixo digital estarão fora do mercado."

Para João Carlos Redondo, gerente de sustentabilidade da Itautec, uma 
das mais antigas montadoras de PC nacionais – lançou sua primeira 
máquina em 1982 –, "ser verde é hoje um diferencial no setor de 
tecnologia da informação". "Investimos R$ 3 milhões entre 2006 e este 
ano para adequar nossa linha de produção aos padrões internacionais 
de performance ambiental", diz. "O aumento no preço final foi de 
cerca de 2%."

fonte: www.link.estadao.com.br